quarta-feira, 29 de outubro de 2008

rizoma

por enquanto petrificam-se os nós, e aguardam sob o branco de folhas-rascunho

algo novo está surgindo, que justifica a imensa quadra - seara

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Perspectivas de...

Pierre não quer acender a cabeça e por instantes eliminar o mundo que o cerca. Há tão pouco viu-se livre de sua família que não hesitaria por transpassar noites despercebido, desde que pudesse contemplá-las, nem que com um fugidio olhar ou com os próprios olhos da imaginação. Pensa que o mundo é frio e escuro, e sabe-se dono da luz que falta em diversos rumos. Sabe-se algo de especial, mas impossível desvanescer a idéia de que fora preconcebido, moldado, guardado e parido com o triste fim de fazer luz ao lampião da sala. Dando-se a todos, pergunta, gozaria ao menos o insondável prazer que é traduzir trevas em labirintos?

Dias e talvez anos passam no tempo de Pierre. E ele se mantém latente. Á espreita, aguarda. Sabe-se dono de uma solução para o frio. Vê que em volta agonizam viúvas e suas filhas, desnorteadas ante a insegurança, o vento e seus bramidos. Por vezes chove. Ouve as cento e inúmeras vozes que se queixam, e na sua mente não resta a mínima comoção – pois até o momento nada vale a extinção prematura de sua compartimentalizada vida, com esperanças de promissão e guinada no rumo natural das coisas.

Pierre sabe de si em seu destino escrito. Daí não sustenta culpas. Alguém se queixa do encanamento, alguém apaga as janelas. Sofre o sol o fim de outro dia. Acumula-se sobre Pierre o pólen da expectativa. Mas esta veste-se de brandura e descanso. Nada abala o coração de Pierre desde os primeiros dias sobre a mesa.

Finalmente, vem Mateus. Que toma Pierre pelo corpo e risca sua cabeça contra a superfície áspera da caixa, fazendo o fogo com que acende seu cigarro. A última impressão de Pierre foi de melancolia infinita, pois fora sacudido e morto antes de que o fogo perdurasse até o máximo. Pela simples precaução de Mateus, que não queria queimar os dedos.

Perspectivas de..., o texto sobre um palito de fósforo que não queima até o fim, não foi publicado. Contudo George, um amigo peculiar seu, que se costura à sua vida em pontos muito esparsos, quase sempre bons, o leu e gostou muito. Você pode portanto pensar que George sabe de Pierre e que dele recorda vez que outra, no transcurso de algum movimento que faça na cidade distante que está — George é médico pediatra e surfista, nessa ordem de importância ou na outra (você nunca perguntou a ele) e mora em Punta del Diablo, no início do Uruguay. As poucas vezes que você foi visitá-lo estão acesas na memória de você — nessas poucas visitas, tanta coisa. Por exemplo. (Etiene encaixou o cachorrinho de pilha, p. 34-35)