domingo, 28 de dezembro de 2008

colvara grava músicas numa antevéspera de natal


músicas de verão


"?"

letra otaviano roberto(*), música josé menna




"o sol"

letra e música colvara





(*) otaviano roberto, personagem criado por josé menna e antonio dodecari no primeiro livro da dupla, papagaio ao luar, de 1994. a poesia "?" foi escrita por otaviano no livro a máquina, de 2002, com o punho de antionio.

diário popular, quinta-feira, 17 de dezembro de 2008

domingo, 2 de novembro de 2008

diário popular, quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Santo Daime




sorte boa a de isolda

quis morrer

e ser mais moça

que suas nove irmãs mais moças

vocifera

com as galinhas

tem galinha

entre os dentes

é tão pálida que assusta

feita de matéria bruta

retilínea e aerofágica

jogando biboquê


ah meu Santo Daime

meu santo barroco

meu Santo Daime

meu santo barroco



  • letra: Tato Ribeiro, 2007

  • música: Zé Menna, 2007

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

rizoma

por enquanto petrificam-se os nós, e aguardam sob o branco de folhas-rascunho

algo novo está surgindo, que justifica a imensa quadra - seara

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Perspectivas de...

Pierre não quer acender a cabeça e por instantes eliminar o mundo que o cerca. Há tão pouco viu-se livre de sua família que não hesitaria por transpassar noites despercebido, desde que pudesse contemplá-las, nem que com um fugidio olhar ou com os próprios olhos da imaginação. Pensa que o mundo é frio e escuro, e sabe-se dono da luz que falta em diversos rumos. Sabe-se algo de especial, mas impossível desvanescer a idéia de que fora preconcebido, moldado, guardado e parido com o triste fim de fazer luz ao lampião da sala. Dando-se a todos, pergunta, gozaria ao menos o insondável prazer que é traduzir trevas em labirintos?

Dias e talvez anos passam no tempo de Pierre. E ele se mantém latente. Á espreita, aguarda. Sabe-se dono de uma solução para o frio. Vê que em volta agonizam viúvas e suas filhas, desnorteadas ante a insegurança, o vento e seus bramidos. Por vezes chove. Ouve as cento e inúmeras vozes que se queixam, e na sua mente não resta a mínima comoção – pois até o momento nada vale a extinção prematura de sua compartimentalizada vida, com esperanças de promissão e guinada no rumo natural das coisas.

Pierre sabe de si em seu destino escrito. Daí não sustenta culpas. Alguém se queixa do encanamento, alguém apaga as janelas. Sofre o sol o fim de outro dia. Acumula-se sobre Pierre o pólen da expectativa. Mas esta veste-se de brandura e descanso. Nada abala o coração de Pierre desde os primeiros dias sobre a mesa.

Finalmente, vem Mateus. Que toma Pierre pelo corpo e risca sua cabeça contra a superfície áspera da caixa, fazendo o fogo com que acende seu cigarro. A última impressão de Pierre foi de melancolia infinita, pois fora sacudido e morto antes de que o fogo perdurasse até o máximo. Pela simples precaução de Mateus, que não queria queimar os dedos.

Perspectivas de..., o texto sobre um palito de fósforo que não queima até o fim, não foi publicado. Contudo George, um amigo peculiar seu, que se costura à sua vida em pontos muito esparsos, quase sempre bons, o leu e gostou muito. Você pode portanto pensar que George sabe de Pierre e que dele recorda vez que outra, no transcurso de algum movimento que faça na cidade distante que está — George é médico pediatra e surfista, nessa ordem de importância ou na outra (você nunca perguntou a ele) e mora em Punta del Diablo, no início do Uruguay. As poucas vezes que você foi visitá-lo estão acesas na memória de você — nessas poucas visitas, tanta coisa. Por exemplo. (Etiene encaixou o cachorrinho de pilha, p. 34-35)

terça-feira, 30 de setembro de 2008


Em Um Cavalo em Tróia Otaviano Roberto integra e-mails que Juliano S. troca com Maria da Graça. Em um deles, recomenda alguns sites:

http://etieneenxaixou.blogspot.com/

http://zeezana.blogspot.com/

http://ozeetatu.arteblog.com.br/

http://www.myspace.com/ozetatu

http://www.myspace.com/zemenna



RODOLFO E KATY DEZ ANOS DEPOIS*



* Micro-roteiro em um ato, concebido seqüência de Panorama Visto da Ponte, de Arthur Miller.



CENA 1
Escritório de Alfieri

ALFIERI – Quem dita os caprichos da fortuna? Que deuses guardam os caminhos do mundo, as alcovas da providência? Que força oculta impulsiona multidões ao flagelo, tomba cidades, depõe reis e enfurece o mar? Por que mistérios a virtude, casta flor matutina, revela-se impiedosa revolta, furacão insaciável, no cair da tarde? Tão logo ultrapassamos a infância da vida deparamo-nos com a miséria insuperável. Sempre foi assim. Ao longo de minha vida nada presenciei diferente. Somos escravos da fatalidade. A aurora dos tempos culminará na penitência.
Meu nome é Alfieri. Sou advogado. Há muito tempo atrás, num dia distante, pus-me a contemplar o panorama que se me oferece desta janela, em meu escritório, e recordei-me de um caso. Sou advogado, como disse, e ao longo da vida acompanhei as pessoas desta vila em suas mazelas, em suas querelas e desavenças particulares. Contudo, nada do que presenciei se equipara a um caso, em particular. Esse caso, num entardecer remoto, recordei-o diante de uma platéia espectral. E recordei-o novamente, no dia seguinte. E novamente no próximo, e no próximo. E desde então se resumem a isso meus dias. Quando o sol principia seu trabalho de lentamente mergulhar no lado oposto da ponte, subo ao que outrora foi meu escritório e, talvez por penitência, talvez por autocompaixão, narro em detalhes o caso mais lúgubre que acompanhei.
Já não trabalho mais, meus músculos estão cansados, meu pensamento está vazio. Em breve a morte, com seu manto acolhedor e justo, há de trazer descanso aos meus dias. Contudo sei que enquanto me restarem forças, sustentarei a faina alucinada de recordar o que teria sido talvez um acidente, uma paixão desenfreada. Tanto tempo se passou, e uma dor surda, ferina, tem lugar à mesa – um grito contido, uma família silenciosa. A vida segue, mas como um movimento já sem propósito. Um incansável eco do passado. Ou um fantasma insone, que acorda a casa pela madrugada.
A vida nos reserva dores surdas, ferinas. E esta, em particular, há muito desistiu de pedir alívio. Assim como o marinheiro à deriva que, no meio da tempestade, já não sonha mais com a bonança. (apaga-se a luz sobre Alfieri)

CENA 2
Uma sala

Em uma sala modesta, bastante humilde, Rodolfo e Katy estão sentados, tomando café. Rodolfo está de perfil para o público, à esquerda do palco, na cabeceira da mesa. Katy está de frente para a platéia, sentada à esquerda de Rodolfo. Ambos bebem o café lentamente, com o corpo encurvado devido ao frio.

RODOLFO – Sempre o mesmo café...

CATARINA – Está frio.

RODOLFO – Sempre o mesmo café, a mesma rotina. A usina, o serviço, trabalhar o dia inteiro... Essa noite fria! Esse café frio nos domingos...

CATARINA – Pelo menos temos algum dinheiro. Não vivemos de favores como no ano passado...

RODOLFO – Na indústria as pessoas são como loucas, Katy! Exigem de você o tempo inteiro...

CATARINA – Você pelo menos se diverte com Tommy.

RODOLFO – É... O carteado me faz sentir como novo. (Subitamente alegre) A filha do Tommy estava lá, na última noite. Ela conta coisas magníficas de Jersey. Lá, o mundo é diferente.

CATARINA – Sei...

RODOLFO – Às vezes eu penso em me mudar... Tentar trabalho no cinema, no teatro...

CATARINA – Rodolfo, você não cresceu...

RODOLFO – É de lá o Jazz novo, Katy.

CATARINA – Rodolfo, você não cresceu...

Ficam um tempo em silêncio. Começa uma música instrumental, triste, lenta.

RODOLFO – Amanhã o pessoal se reúne na casa do Tommy, depois das nove.

CATARINA – E você vai...

RODOLFO – É...

CATARINA – O Eduard anda resfriado.

RODOLFO (esfregando as mãos) – Esse frio...

CATARINA – Rodolfo, essa noite aconteceu de novo.

RODOLFO – O quê?

CATARINA – Eu sonhei...

RODOLFO – Ah, aquele sonho louco...

CATARINA – Eu tenho medo.

RODOLFO – (...)

CATARINA – Eu caminhava num... (desvincula-se da personagem e fala com frieza, olhando o público) –

Por aqui as coisas não vão bem.
O filme se repete, a dor se repete.
Alguém espreita nos cantos da casa.

Aqui as coisas não vão bem.
O tempo está fechado,
Há um barco à deriva no mar
E um leão solto nas ruas.

Por aqui as coisas vão mal:
Um triste ritornello
Guia-nos os dias.